sábado, 29 de junho de 2013

OS NAMORADOS DA REDE SOCIAL

O rapaz e a moça vêm andando um na direção do outro, na ampla calçada, entreolhando-se fixamente,e ela sorri:
- Ricardo?!
- Eu mesmo, bonitinha.
- Puxa! Você é pontual , hem?
- Sempre fui...
- E olha que eu tava pensando comigo: "Ângela, será que ele vai 'deixar furo'?"
- Não faria isso com você.
- Olha, você é mais bonito pessoalmente...
- Você também, lindinha...
Ela agradeceu e em seguida sorriu, observou com um ar de malícia:
- Mas você é um pouquinho mais velho do que nas fotos, danadinho?
- Mas e a cam...?
- A resolução da tua é muito ruim!
- Tem muito tempo que eu não tiro foto - o rapaz explicou.
Ela seguiu, ainda com um  riso concupiscente:
- Por falar em danadinho, você é terrível mesmo, hem? Fazia tudo pra eu tirar a roupa na cam, mas eu joguei duro com você - gesticulou com mãos e braços rígidos - e eu não tirei! Não tirei nem deixei você tirar! Fui durona, não é?
- Demais... - ele balançou a cabeça como derrotado.
- Mas não é melhor assim? - ela o chamava à razão, como a confortá-lo - Hoje vamos nos despir juntos, você vai  conhecer meu corpo, eu vou conhecer o seu, a gente vai fazer amor... Não é melhor a novidade?
- Se você acha assim...? - ele levantou os ombros.
- Fui durona mesmo. A gente se falou vinte dias, mas eu nunca cedi pra você!
Ele sorriu um tanto sem graça, ela informou:
- Tem um motel aqui no fim desta rua que é ótimo! Tô louca pra te amar, você não imagina.
Os dois seguiram de mãos dadas, no caminho ela queria conversar:
- E como vão as coisas no trabalho?
- Tanta coisa na cabeça - ele se justificava e a inteirava -,  que eu não te falei que mudei de emprego: comecei no banco hoje.
- Ah! Que legal! É melhor pra você?
- Claro que sim!
- Se é melhor...
- Lógico que é!
- E  a tua namorada? Não desconfia de nada?
- Claro que não. Dei um bom drible nela hoje.
- Ricardo, meu amor, posso descumprir uma promessa que te fiz?
- Depende.
- É que não vou poder passar a noite contigo, porque hoje o pai da minha filha vai levar ela lá pra casa...
- Tá bom, anjo, desta vez tá tranquilo, mas da próxima...
-Juro que na próxima nós dormimos juntinhos, juntinhos... ficamos a noite inteira juntinhos, tá?
Ele concordou num gesto de cabeça, chegaram à entrada do motel.
Amaram-se de forma quase animalesca, num ardor de não ter controle. Depois se despediram muito calidamente:
- Você promete que amanhã me liga, meu amor? - pediu Ângela.
- Ligo cedinho, pode deixar... Antes de ir pro trabalho.
Na manhã seguinte, o celular da mulher tocou, e ela reconheceu na bina o número do Ricardo:
- Oi, meu amor! Que saudade!
- Ah, minha querida, me desculpa ter te deixado esperando ontem! Mas a minha namorada apareceu de surpresa lá no escritório, quinze minutos antes de eu sair, e me levou pra jantar e depois cismou de passar a a noite comigo.

Barão da Mata




sexta-feira, 21 de junho de 2013

NOVO COMERCIAL DA PERFORMÁTICA, MATADORES DE ALUGUEL



No ar, a nova campanha da "Performática, Matadores de Aluguel", empresa forte no ramo, que vem estendendo a parceria com a agência de propagandas dos Pensadores de Birosca. Assista ao vídeo abaixo e ria, se puder!




UMA 5a FEIRA PACATA NA VIDA DE UM PENSADOR DE BIROSCA

Do Maracanã à passeata, em imagens...








O que não ficou registrado, mas você pode acreditar:


O Maracanã lotado cantou o hino nacional...de arrepiar!

O Maracanã lotado estava doido para gritar num gol do Taiti. Infelizmente, não passou nem perto.

O povo que está nas ruas do Rio não está disposto a ser engambelado. Escreve aí:

- Ninguém vai engolir a PEC 37.

- Não adianta dizer que vai destinar mais recursos para educação e saúde. Todo mundo sabe que o dinheiro não chega, porque para no bolso dos corruptos. Quando o povo perceber que o atendimento nos hospitais é digno, que funciona, que todos são tratados de acordo com o valor que se deve dar a uma vida...Aí sim, o movimento interromperá as manifestações.
- Não adianta negar "1" - Na 5ª feira, a Polícia Militar não se limitou a combater os vândalos. A tropa avançou contra os manifestantes em atitude pacífica agindo (obviamente, com ordens superiores) para dispersar o povo e interromper a passeata. Mesmo pessoas que não participavam do movimento, no Bairro da Lapa, e mesmo no Circo Voador, onde ocorria um concerto musical, acabaram vítimas de bombas de gás.
- Não adianta negar "2" - Não havia 300 mil pessoas e sim muito mais. Av. Presidente Vargas, Av. Rio Branco e Cinelândia estavam tomadas de gente, ao mesmo tempo.

- Os bares da Cinelândia, dentre eles o tradicional Amarelinho, mantiveram as portas abertas, mesmo com manifestação, bomba de gás e tudo mais. Fica a admiração pela atitude corajosa e democrática de seus administradores..
- Uma última constatação: Quem vai à passeata, se contagia. É impressionante, é comovente, é transformador. Por isso, o movimento só tende a crescer.

AS NOVAS PLACAS DO BRASIL (Homenagem dos Pensadores ao Kibeloco)



Em tempos de orgulho em ser brasileiro, PLACAS DO BRASIL, tem que ser essas:





 
 
 
 
Diretamente das grades do Campo de Santana, Centro do Rio de Janeiro


terça-feira, 18 de junho de 2013

ENQUANTO A CIA INVESTIGAVA OS PENSADORES...

Deixem-me curtir o momento. Este orgulho inédito de ser brasileiro. Hoje, não falemos de amanhã. Vamos falar da hesitação patética de Paes e Cabral,atônitos, em dar as caras. Vamos rir da Dilma pedindo socorro ao sabichão Lula. Vamos ignorar a fala ensaiada desses políticos desqualificados e vamos saborear as televisões insistindo, ontem, em mostrar somente as depredações, preterindo a multidão pacífica e hoje, tendo que inverter o discurso, diante da inevitável repercussão. Hoje, não vamos pensar no final da história, porque o meio está bom demais.

Leônidas Falcão

AS MANIFESTAÇÕES DOS INDIGNADOS CIDADÃOS BRASILEIROS

As manifestações populares contra a corrupção generalizada, a demagogia, as mentiras políticas e o assistencialismo barato do governo federal, sobretudo com o rechaçamento à participação dos partidos políticos, têm um perfil  que eu não chamaria cívico porque a expressão é demasiadamente utilizada por essa politicada de boca imunda do país.  Confesso que fiquei surpreso com o fato de o movimento tomar o corpo que tomou, o que acarretou uma repercussão internacional que envergonharia o PT e os nossos mandatários se toda essa escória tivesse algum pudor e vergonha na asquerosa cara.
Ao invés de partir para a truculência, Dilma teve de engolir tudo a seco e ainda elogiar e se dizer solidária ( ué? - dá vontade de rir, não dá?): orientação do "grandioso" Lula (espécie de encosto que a presidente tem como guru e arremedo de anjo da guarda) e dos marqueteiros do partido.  O que me atemoriza é imaginar que medidas demagógicas a nossa pré-imitação de Margareth Thatcher  vai tomar para resgatar a popularidade que ostentou ao menos até a última pesquisa de opinião realizada.  Mais do que as medidas, preocupa-me quem vai pagar a conta dos futuros atos populistas, como a instituição de eventuais bolsas absurdas, ridículas e onerosas que S.Excia. e seus puxa-sacos possam vir a instituir.
É perfeitamente notório que o aumento das passagens é apenas um símbolo, a ponta do "iceberg" e uma pequena mostra de um numeroso e variado lote de insatisfações da sociedade.
Estão de parabéns os manifestantes (os verdadeiros, que têm responsabilidade, não os vândalos oportunistas) e as redes sociais por terem, através do engajamento, produzido um inesquecível momento histórico como o que ora vivemos.

Barão da Mata

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A FAVOR DOS DIREITOS HUMANOS - CASO SANTO ANTONIO






Hoje por ser dia dos namorados escutei uma série de violências que as pessoas encalhadas costumam praticar contra este indefeso santinho - Santo Antonio.

Ouvi de tudo! Vocês não podem imaginar! Diversos tipos de tortura! 

Teve sequestro do bebê, colocaram o pobre no pau-de-arara, o afogaram, e até degolado o pobre santinho foi! 

Cheguei a me perguntar se o DOI-CODI ainda está em atividade... 

Então, encalhados do meu Brasil, não torturem mais o bonequinho!
Com o tempo que perdem fazendo isso já estariam acompanhados, se estivessem por aí, dando mole pra alguém!!

ABAIXO A TORTURA DO BONEQUINHO DE SANTO ANTONIO! rs

Juliana Braga

terça-feira, 11 de junho de 2013

O AMBULANTE DO AVIÃO

Senhores passageiros  desta primeira classe, em  primeiro lugar quero lhes desejar uma boa tarde e uma excelente viagem, e ainda pedir desculpas por interromper o silêncio e a tranquilidade de vocês.  Quero também me apresentar: sou o Zé Brasil, o vendedor mais barateiro que já puderam conhecer. Eu trago comigo uma mercadoria que é de muita utilidade para alguns homens ricos como os que temos aqui e as estou vendendo por uma VER-DA-DEI-RA   BA-GA-TE-LA!
Com o produto que estou vendendo, os senhores podem ganhar isenção de impostos, conseguir fraudar e superfaturar compras , ou seja, ficar ainda muito mais ricos.  Em qualquer  país do mundo os senhores comprariam um deles por um milhão de dólares, mas aqui, na minha mão, três políticos custam a ninharia de dez mil reais!  Dez mil reais, meus senhores!  É a minha superpromoção!  Três políticos por só dezinho, passageiros!  Não percam a oportunidade: aqui na minha mão o preço é três por dez, três por dez, minha gente! É promoção de maluco!  Aproveitem e levem!  Pra quem quiser comprar mais de três, eu faço um preço que só mesmo um doido é capaz de fazer: dez políticos por vinte mil!  É isso mesmo, passageiros!  Dez por vinte! Dez por vinte! Hoje tá quase de graça!

Barão da Mata

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A PARANOIA DO OBAMA E SUAS CONVERSAS MATUTINAS COM SEUS AGENTES


Com  essa paranoia do Obama e seus comandados e partidários de que todo mundo, principalmente muçulmanos e árabes, quer mandar os Estados Unidos pelos ares, o presidente americano já acorda se comunicando com seus agentes:
- Vejam se ao redor da minha casa há alguém de túnica, burka, turbante, se há algum árabe ou descendente por aí.  Enquadrem até mesmo os que se pareçam com árabes. Odeio árabes e descendentes, negros, mestiços, essa gente suspeita e de má índole.
- Entendido, Excelência - responde um agente - Já detivemos cento e oitenta.
- É  pouco. Procurem mais. Não há de ficar negro sobre  negro, árabe sobre árabe.
- Excelência, perdão, mas...
- Sim?
- Esse negócio e negro sobre negro e árabe sobre árabe fica chato.
- Ora, vá para o inferno!- Obama andava de u m para outro lado em passos apressados - Trate de pegar mais terroristas!
- Entendido! Lá vamos nós!
- Ah! Mais uma coisa!  E o que encontraram na internet?
- Excelência, uma mulher tirando a roupa  no Skipe, do outro lado um homem dizendo que estava pegando fogo.
- É perigoso! O que vocês fizeram?
-Introduzimos instrumentos em todas as cavidades do seu corpo, mas não achamos nada. Estamos esperando-o sair do coma para interrogá-lo.
- Muito bem: perfeito! E no Facebook?
- Um homem que aparece  despido com uma toalha tapando a genitália.
- E então? Como agiram?
- Encontramo-lo, amputamos-lhe o pênis  porque achamos o achamos suspeito.
- Quem o suspeito? O homem ou o pênis?
- Os dois.  O homem está preso, e o pênis, sendo averiguado.
- Muito bem. E quanto a e-mails?
- Vasculhamos inúmeros. Num deles uma mulher chama um sujeito de crápula, safado, sanguessuga, gigolô, safado, e diz que, depois de pegá-la, resolveu sumir do mapa.

- Opa! Se sumiu do mapa, pra onde foi?  Pra Samara?  E se a pegou é um homem  de periculosidade, deve ser um assassino: só pode ser da Al-Qaeda!  Por via das dúvidas, achem o homem e a mulher e prendam os dois!
- Mais algo estranho?
- Uma tal Samira se dizendo devoradora de homens...
- Opa! Uma talibã  antropófaga! Prendam-na para interrogatório. Se ela reagir, atirem para matar.
- Que mais? Andem logo!
-Tem no Brasil uma favela muito grande, cheia de mestiços e feições parecidas com de árabe...
- Recolham todo mundo! Pode ser uma célula! Célula?! Já é um tecido!
Tecido nada!  É u m sistema! Sistema nada! É um corpo inteiro!  Só tem um jeito: mandem  os aviões sobrevoar a localidade e explodam tudo!
Tudo mesmo! Não deixem nada!
- Entendido! Assim procederemos!
- E agora? O que mais? O que mais?!
- Tem uma mulher numa rede dizendo: “ Tô toda excitadinha ... Toda arrepiadinha... do jeito que  você gosta...  Tô fervendo, molhadinha,
nuinha em cima da cama...”
- Anda logo,anda logo! - o presidente, com uma das mãos entre as pernas - Conta mais, conta mais! Se ela não disse mais nada, por favor, inventa!

Barão da Mata

domingo, 9 de junho de 2013

OS ESTADOS UNIDOS EXPLODIRAM A INTERNET

Quando o Leônidas ligou me dando conta de termos tido 120 acessos americanos dentre o total de 180 obtidos num certo domingo, não vi grandes motivos para preocupações.  Afinal, há tantos brasileiros vivendo nos Estados Unidos e sentindo saudades do Brasil, que não dei nenhuma relevância ao fato de ele achar que estaríamos sendo investigados.  Tanto não dei importância, que aproveitei a chance e fiz chacota da situação (se você quiser ver, o link é http://pensadoresdebirosca.blogspot.com.br/2013/05/os-cento-e-oitenta-acessos-e-o-agente.html ).  Alguns dias depois, todavia, o Gmail me indagou se eu tentara acessar meu e-mail de um computador do país norte-americano.  Respondi que não, e eles me aconselharam a trocar a senha. Obedeci e comecei a levar a questão mais a sério.  E passei a prestar atenção maior ainda aos fatos depois das matérias divulgadas pela imprensa, onde se revela que Obama e companhia estão escarafunchando todos os sites, redes sociais, e-mails e tudo o que se pode ter em matéria de internet.  Tão fuçando tudo (com o perdão dos porcos pela analogia).  Os seguintes links bem corrroboram o que digo: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-06-07/obama-programas-de-vigilancia-dos-eua-equilibram-seguranca-e-privacidade.html



Leônidas me dissera que a razão de eu estar sendo (ou
supostamente sendo), digamos, "vigiado" pelos caras seriam algumas expressões-chave, como "capitalismo perverso", e eu atribuiria uma suposta vigília a eu ter dito que Kennedy foi um dos mentores do golpe militar que eliminou inúmeros brasileiros, que Abraham Lincoln não foi o heroico libertador de negros que os americanos acreditam (tendo até uma postura, segundo o historiador  J.J. Almeida Arruda, moderada diante da Guerra de Secessão), que, com todo o respeito pelos inocentes mortos no 11 de setembro de 2001, a data que o Brasil deve sempre rememorar é o 7 de setembro de 1822 (ou seja, o 7, não o 11 de setembro), que, se é para nos enlutar todo 11/09, que o façamos também todo 6 e 9 de agosto, datas em que Harry Truman devastou Hiroshima e Nagasaki com duas bombas atômicas que mataram velhinhos, crianças, mulheres, cachorros, gatos, civis e todo tipo de inocente, num momento em que o Japão só atacava os navios americanos por intermédio de pilotos kamikazes, pois já estava aniquilado na Segunda Guerra.
Tudo o que disse,entretanto, não faz de mim (sem ironia) nenhum antiamericano: não tenho nada contra a sociedade americana e ainda sou admirador de atores como Al Pacino, Morgan Freeman, Robert De Niro, Jack Nicholson, Math Damon e outros.  Toda a minha antipatia é pelas autoridades, políticos, mandatários, racistas, belicosos e reacionários do país.   E isto não se dá sem motivos, porque quem é que pode gostar de um Estado imperialista?  E sabe no que imperialismo  implica? Em conquistas.  E sabe em que conquistas implicam? Em massacres, gente inocente mutilada, mulheres estupradas, crianças assassinadas, casas de família incendiadas, hospitais explodidos, em carnificinas horrendamente dantescas.  Há, então, como admirar homens que promovem coisas deste gênero?
Ora, o que o Obama e seus asseclas estão fazendo é terrorismo  de Estado, cerceio ao nosso direito à privacidade e à liberdade de expressão.  Equiparei uma vez esse verdadeiro monstro a George W.Bush (http://baraodamataprosa.blogspot.com.br/search?q=TROCANDO+AS+BOLAS ).  Ora, os governos americanos são, em sua maioria absoluta, de vocação expansionista, e esse mascarado do Partido Republicano que exerce a presidência não poderia ser diferente.
Quanto a nós, meros mortais, só o que  nos cabe é não mais depositar   confiança na internet, além de ficarmos cônscios de que o governo brasileiro, afinado com práticas autoritárias e antidemocráticas, não expedirá uma linha de repúdio aos atos dos terroristas ianques.  Quem sabe tenhamos de voltar a nos corresponder através de cartas de papel envelopadas, via Correios... se os governos brasileiro e americano não nos submeterem  as cartas a radiografias, ultrassonografias, ressonâncias, etc...

Barão da Mata

quinta-feira, 6 de junho de 2013

JONAS, O SALAFRÁRIO

Jonas já nasceu salafrário. Ainda no berçário, sempre desandava a chorar. Não porque tivesse febre, fome ou dor de barriga. Fazia-o apenas para que a enfermeira, que usava uniforme decotado e dispensava sutiã, se debruçasse diante dele e lhe permitisse ver os seios. Aos dois anos, na creche, vendia leite falsificado, feito com água e farinha de trigo, às outras crianças, recebendo o pagamento em balas ou doces. Colocava maracujina no suco de laranja das coleguinhas e aproveitava-se do sono dessas para pintar-lhes os rostos com tinta guache.
Quando entrou para a escola, procurou sentar-se na primeira fila, bem diante da mesa da professora. Não que fosse aluno aplicado , interessado nas aulas, mas porque ela se descuidava vez por outra ao sentar-se , abrindo as pernas sob a mesa, o que dava-lhe condições de ver-lhe as calcinhas.
Na adolescência, já a sua primeira namorada foi conquistada de um modo não lá muito ético. É que o nosso protagonista tinha um colega de classe um tanto quanto tímido, que interessou-se por uma menina de uma outra turma, que correspondia aos seus sentimentos; entretanto, como o rapazinho não se encorajava a declarar-se direta e pessoalmente, resolveu um dia mandar recado pelo amigo:
-- Diz a ela que eu tô apaixonado . Se ela gostaria de ir ao cinema comigo...
O nosso rapaz, todavia, como também se sentira atraído pela mesma menina, tornou a mensagem extremamente diversa da enviada:
-- O fulano pediu a você que o desculpasse, mas que não alimentasse qualquer esperança com relação a conquistá-lo, porque gosta de meninos e não dá a mínima pra meninas.
Ante a perplexidade da mocinha, continuou:
-- E disse mais, só que pra mim em confidência: que você é uma bobalhona que se apaixonou tanto por ele, que é incapaz de namorar qualquer outro rapaz deste colégio. O que é uma pena, já que eu tô tão interessado em você e...
-- Você topa me namorar?! – atalhou a colegial, magoada, furiosa e resoluta.
O colega de classe de Jonas ficou sem entender nada, porque a moça passou a virar-lhe o rosto a partir de então, além de namorar o seu desleal mensageiro.
--A gente não entende as garotas. – explicou-lhe o infiel colega  uma vez – Quando eu fui dar o recado, ela me disse que não tinha o menor interesse em você e que eu, sim, sou o rapaz dos seus sonhos.
Não chegou, ao completar dezoito anos, a ingressar nas forças armadas, graças a um atestado médico de insuficiência física, atestado com timbre de um hospital público que obtivera de um falsário. Liberado de suas obrigações em relação à pátria, resolveu, no entanto, mesmo depois de vinte e tantos anos, não ingressar no mercado de trabalho.
--Querem vocês -- dizia a seus críticos – que eu engrosse essa camada de trabalhadores explorados que padecem neste país? Abster-me de trabalhar é antes de tudo um protesto contra a perversa relação de trabalho que grassa nesta nação.
Houve uma época em que deu a impressão de querer dedicar-se à caridade, e não é que alugou um terreno, armou um "stand" e montou uma igreja, a Igreja do Jesus Miraculoso, onde fazia enxergar os cegos, ouvir os surdos, falar os mudos, numa sucessão de milagres jamais vista? É bem verdade que cobrava donativos pesados, mas explicava a suas ovelhas que a igreja era de Deus e Deus não era mendigo para receber parcas esmolas, além de pô-los a par de que precisava dar continuidade à sua ( a dele, Jonas) obra incomensurável e magnífica: a construção, para os seus seguidores, de um condomínio de moradias no Céu.
Essa história toda de condomínio celeste, milagres, caridade só deu em água por culpa de uma mulher mal-amada, disposta a jogar por terra toda a vastidão do trabalho do nosso pastor. É que um dia, mal Jonas acabara de fazer enxergar um cego que o era há já dez anos, a mulherzinha gritou do meio da multidão:
--É mentira! Esse homem nunca foi cego!
O pastor indignou-se e dirigiu-se a ela com a autoridade moral natural e peculiar dos homens do Senhor:
--A senhora duvida de um milagre de Deus?
--Deixa de palhaçada, seu safado! Ele é meu marido e fugiu ontem com a vizinha. Pelo menos até ontem tava enxergando muito bem!
Foi um corre-corre danado, o falso cego levando guardachuvadas da mulher, gorda e mal-vestida, Jonas fugindo à ira da multidão, as pedras atingindo-lhe os calcanhares, e o episódio mostrando-nos mais uma ironia da vida, onde se pode descer da magnitude à execração, do mais elevado pedestal à situação mais chã. Assim o nosso amigo sofreu o primeira grande revés de sua vida.
Mas tinha capacidade para reerguer-se! E o conseguiu através de um casamento bastante ... digamos... satisfatório. A mulher era um pouco mais velha, se levarmos em conta que ele contava uns trinta anos e ela, setenta e cinco. Uma viúva doente e que herdara alguns bens do marido...
--Vejam só, meus amigos – costumava comentar entre os companheiros de copo, no período de recém-casado – duas bênçãos vieram a mim ao mesmíssimo tempo: o amor e a boa-sorte.  E, num gesto de auto-exaltação:--É a recompensa pela bondade, meus irmãos! Eu me dei à caridade, à probidade e à honradez. Deus me deu uma bela e remediada mulher por minhas obras e minha conduta neste mundo.
A conduta de Jonas dispensava comentários, a expressão remediada se adequava perfeitamente à situação financeira da mulher; todavia, bonita era uma palavra jocosa para se fazer alusão à mencionada senhora. Ela tava  "no bagaço", tinha setenta e cinco anos e aparência de oitenta e cinco. Tanto que o recente esposo tinha dificuldades em cumprir suas obrigações conjugais, sendo em muitas das noites auxiliado (ou melhor, salvo) pelos soníferos que vivia a colocar nos sucos de tomate que a pobre mulher tinha o hábito de tomar após o jantar.
Enfim, a senhora morreu no tempo mais ou menos previsto por Jonas, mas este não viu sequer a cor de sua herança, pois os credores da finada deixaram-na pobre como um indigente poucos dias antes de sua morte, com todos os bens e as contas bancárias penhoradas.
Foi aí, então, que o nosso homem teve a sua segunda queda na vida .
Nosso amigo houve assim de enfrentar a dura luta pela sobrevivência. Teve de se valer de pequenos expedientes como vender pardais pintados de amarelo para passarem por canários e fazer outros pequenos "bicos", tudo pelo suado pão dos dias. Outros biscates, aliás, de vez em quando lhe rendiam ganhos bastante razoáveis, sobretudo com o golpe da mulher adúltera.
Esse golpe era, aliás, bastante simples: Jonas associou-se a uma morena dotada de inúmeras e inquestionáveis virtudes – bunda grande, peito em pé, coxas grossas e torneadas, olhar lascivo e lábios carnudos – que, quer num ponto de ônibus, "shopping" ou que lugar fosse, olhava insinuante e insistentemente para o sujeito que lhe parecesse ter a carteira recheada. A vítima se aproximava, os dois conversavam e trocavam lisonjas, Celina, a morena, convidava-o a ir à sua casa, esse ia, os dois se despiam no quarto, ela fazendo que antes o indivíduo deixasse as roupas sobre uma cômoda que ficava bem próximo à porta do quarto. A cama ficava bem longe da cômoda e encostada à janela, e, quando os dois iam iniciar o ato sexual, Jonas, que sempre passava todo o tempo escondido na sala, gritava:
--Sua vagabunda! Desta vez eu mato você e o seu amante! –e metia a mão na maçaneta, abrindo a porta e surgindo diante do coitado com um revólver sem bala em punho.
Jamais um dos pegados no truque quis ir até a cômoda para pegar as roupas e a carteira, todos pulavam a janela nus como estavam. Os dois cúmplices riam muito nessas ocasiões, dividiam o dinheiro e Jonas é que se regalava nas carnes bronzeadas da gostosona.
Essa sociedade só se desfez porque o nosso amigo sofreu o seu terceiro golpe. Houve um dia em que Celina gostou de verdade de um sujeito, um cara grandalhão e musculoso como um hércules. Quando o tal estava nu e Jonas começou a bradar, a morena segurou o parceiro pelo braço, impedindo-o de pular:
--Não pula não, meu bem, que o revólver é de brinquedo.
Jonas arregalou os olhos, quedado, viu de repente aquele gigante nu crescer diante dele, e apanhou copiosamente... numa surra memorável, inesquecível.
Sumiu durante umas três semanas. Quando reapareceu, entrou no bar lotado de conhecidos, o ar compenetrado, e não sorriu nem aceitou as bebidas que lhe foram oferecidas.
--Senhores! – bradou solenemente – Quero pedir-lhes o silêncio por um momento, apenas para dizer-lhes que estou de partida.
Quiseram dizer alguma coisa, mas ele os conteve com um gesto, seguiu:
--Um homem deve ir sempre ao encontro de seus iguais e seus pendores, um homem deve ir sempre ao encontro de seu destino. Adeus, senhores! – e saiu botequim afora, sem atender a qualquer voz que o chamasse, sem dar qualquer explicação.
Sumiu do bairro, nunca mais ninguém o viu nem soube dele. E vez por outra ficavam a conjeturar sobre que rumo tomara na vida, o que quisera dizer com suas poucas e formais palavras. A que iguais se referira? A ladrões, vigaristas, golpistas, assaltantes? Não, assaltantes não: Jonas nunca fora violento. Nem os tais iguais deveriam ser desonestos, mas tão somente tristes, já que ele tinha o ar tão sério e compungido... E o que quisera dizer quando falou em ir ao encontro de seus pendores? Vigarice, calhordice, desonestidade...? Não, pois e o semblante tão austero...? Além disso, aquela merecida surra provavelmente o havia regenerado. Ele falava de algum pendor sério, talvez para a tristeza – não é o que sugeria em sua expressão? Reunir-se-ia a outras pessoas tristes, uma associação dessas de anônimos que há por aí. Ou quem sabe tornar-se-ia monge, viveria num mosteiro em lugar ermo e distante...? Não, meu Deus! Estaria ele pensando em suicídio, juntar-se a outras almas igualmente tristonhas? Meu Deus! Que tragédia! Foi isso que quis dizer ao referir-se a ir ao encontro do próprio destino! Só podia ser! Ir em busca de seus iguais era ligar-se no plano sobrenatural a outras almas infortunadas, o infortúnio era o seu pendor, e a morte, o meio de chegar a tal destino. Os boatos rolavam com frequência.. Jonas se matara. Jonas fora para um mosteiro. Jonas tornara-se um eremita. Integrara-se a uma quadrilha de falsários. De vigaristas. De assaltantes. Jonas casara-se com uma milionária, morava no estrangeiro.
E assim os rumores foram indo e vindo, de boca em boca, até que um dia uma barulhenta e perturbadora carreata parou bem em frente ao boteco que outrora Jonas frequentava, e adivinhem quem estava de pé na carroceria no carro principal, com uma faixa enorme acima da cabeça! Adivinhem quem! Quem? O próprio, minha gente! E na faixa se lia: “Votar em Jonas Pereira é votar em trabalho e honestidade.” Jonas desceu do carro e abraçou os amigos, pediu votos e pagou bebidas, sorriu muito e comentou com entusiasmo:
--Um homem com os meus predicados é nascido e feito sob medida para a carreira política.
E o nosso protagonista não só teve os votos dos amigos, como também elegeu-se na condição de um dos políticos mais votados daquelas eleições.

terça-feira, 4 de junho de 2013

UM LUGAR AINDA DESCONHECIDO PRA MIM...

Hoje fui a um lugar ainda desconhecido para mim...

Era como um labirinto, cheio de pessoas- acho que perdidas - não sabiam direito aonde iam...
Muitos corredores... Muitos objetos...

Que sufoco!

Cada uma tinha uma arma perigosíssima! A minha então! Nem se fala...

Atingi algumas pessoas na altura do tornozelo, mas pelo que eu vi é comum. Todas vão sobreviver.

Agora só volto ao Supermercado mês que vem! 

Quem sabe até lá eu já não aprendi a manejar o carrinho? rsrs

(Juliana Braga)

domingo, 2 de junho de 2013

VERSÃO BRASILEIRA - IÔ IÔ


Os Pensadores de Birosca já se acostumaram a contar pequenas histórias de canções. Então, só para não perder o hábito, trazemos mais uma "versão brasileira", com um ácido e bem-humorado samba composto por João Nogueira, que muito admiramos (ambos, a canção e o artista)
Iô Iô foi composto em parceria com Paulo César Pinheiro e lançado por João Nogueira no disco "Clube do Samba", em 1979. A música foi logo identificada como uma alfinetada em ninguém menos que Caetano Veloso, que na época, ganhava cada vez mais espaço na mídia para falar sobre diversos assuntos. Sempre polêmico e disposto a opinar, inclusive, sobre as questões do cotidiano no Rio de Janeiro, onde vivia, Caetano passou a irritar de tanto exaltar os baianos e as "baianidades" durante essas entrevistas.
 
Por essas questões, Caetano teve enrtreveiros com outros artistas, como Raimundo Fagner e Hermeto Pascoal. Já a resposta de João Nogueira veio com Iô Iô, que você pode ouvir agora, aqui nos Pensadores, assistindo ao vídeo abaixo. Curiosamente, a versão que apresentamos foi executada pelo filho de João Nogueira, o talentoso Diogo Nogueira, durante um dos episódios de seu programa semanal na TV, chamado "Samba na Gamboa".


 

Iô-iô você exalta a Bahia
porém nunca mais por lá ficou
e deu pra falar mal do Rio morando aos pés do
redentor

Até que no início você parecia que era um bom rapaz
Mas com essa mania de estar todo dia em jornal: Falou
demais

iô-iô olha o homem que é homem não muda que nem você
mudou
Não cospe no prato que come
nem vai contra o povo que o sagrou
em que casa de marimbondo você foi mexer porque é
falador
e agora só vai ser chamado de iô-iô

iô-iô que arapuca você colocou a carroça na frente dos
bois
e macaco velho não põe a mão em cumbuca e você pôs
Você vive inventando moda
jogada pra estar sempre em cartaz
e é tanta conversa fiada que ninguém agüenta mais

agiu de má fé nas paradas
só que dessa vez ninguém engoliu
e cai numa mesma mancada que agora é uma boca de funil
ninguém mexe com quem tá quieto
ainda mais carioca que é gozador
e agora só vai ser chamado de iô-iô

VOCÊ ACREDITA EM VIDA DEPOIS DA MORTE?

Você acredita em vida depois da morte? Poderia haver uma outra existência após esta sobre a face da Terra? Quem nos poderia responder? Os cientistas? Não: esses são extremamente incrédulos e normalmente não se ocupam com tal questão. Assim, não nos resta alternativa senão atentar para a versão, ou melhor, as versões dos religiosos.

Sim, porque há tantas versões quanto há religiões neste nosso mundo, e estas, as religiões, se atribuem a condição de donas da verdade, a única verdade, que, devido à diversidade de seitas e doutrinas religiosas, multiplica-se em inúmeras únicas verdades. 

Há os reencarnacionistas, os antirreencarnacionistas ferrenhos, os do primeiro grupo que acham que a gente vai evoluindo de forma para forma de vida, começando o ciclo de reencarnações como seres extremamente rudimentares, tais como micróbios ou algo superior, para atingir em estágios mais avançados a condição de seres humanos e até quem sabe algo mais avançado que porventura possa existir. Ainda sobre o primeiro grupo, há uma corrente que acha que quem encarna a primeira vez humano, reencarnará sempre e sempre humano, mesmo na última de toda a sua série de existências, e que quem nasce a primeira vez como cachorro, jamais virá ao mundo como outro ser. Ou seja, uma vez gente, as vidas inteiras gente, uma vez cachorro, sempre cachorro.

Quero me ater inicialmente aos que não creem em reencarnações, como os católicos e os protestantes, que acham que a alma, após a morte do corpo, tem um outro caminho: o Céu ou o Inferno. Quem teria acesso ao Céu? Quais seriam os requisitos para atingi-lo? Se bondade fosse o fator mais importante, uma legião de padres, pastores e carolas já estariam descartados, porque a Igreja Católica, assim como as protestantes, tem uma ala conservadora bastante numerosa e significativa: padres, pastores e membros que não estão nem aí para a pobreza, a miséria, a indigência e outras mazelas sociais, e não são por isto exatamente bondosos. Isto sem contar a incidência de homens maus e/ou desonestos entre esses lpideres espirituais. A não ser que os critérios de avaliação sejam totalmente diversos, sendo por exemplo preponderantes fatores como devoção, assiduidade às missas ou cultos, adulação aos santos e a Deus no catolicismo, somente a Deus no protestantismo. Mas se os critérios forem mais justos, que uma boa parte dessa gente não vai pro Céu, não vai.

Imagine o Fernando Henrique diante de Deus, tentando de modo vão justificar os seus pecados:

--Mas, Excelência...

--Excelência não, Fernando: não sou político como tu...

--Desculpe, Senhor...

--Cuida de tratar-me na segunda pessoa do plural.

--Desculpai-me, Senhor, mas é que eu nem acreditava que existíeis...

--Por isto mesmo – replicaria Deus com sua voz ecoante – já és um potencial pecador. Como queres vir para o Céu?

--Senhor, eu apenas procurei fazer o meu trabalho da melhor maneira possível...

--Mentindo para o povo? –seguiria a retrucar o todo-poderoso – Prometendo-lhe comida farta, casa, saúde, trabalho e não lhe dando nada disto? Enganando-o? Ao invés de dar-lhe mais, tirando-lhe o tão pouco que ele já tinha? Não te sensibilizaste com a fome, a miséria, as crianças morrendo à míngua, os homens sem terra para plantar e sem pão para comer: como queres então entrar aqui?

“Mais ainda, Fernando: eu te condeno não só por tua maldade, mas também porque tu, em inúmeras oportunidades, debochaste de forma vil e barata daqueles que fizeste sofrer, em entrevistas que deste à televisão. Ora, eu não perdoo o sarcasmo barato, sobretudo vindo de ti, a quem dei o acesso à condição de intelectual. Ah, Fernando! Nem irônico tu conseguias ser? Sendo assim, eu te condeno ao fogo eterno do Inferno, por incredulidade quanto ao teu Senhor, maldade para  o teu próximo menos abastado... e pelo teu rasteiro escárnio. Ah, Fernando...! Nem irônico tu conseguias ser?”

Agora, se a gente se ativer aos que creem em sucessivas reencarnações, imagina assim o julgamento de certos caciques políticos:

--Excelência...!

--Que Excelência o quê, Agripino! Vocês políticos têm cada mania!

--Perdoai, Senhor...

--Trate-me por favor por Senhor, entretanto sem essa frescura de me chamar de Vós, que é tratamento de quem quer bajular.

--Tá bom, Senhor, mas o que eu quero dizer é que eu sempre fui devoto, sempre fui às missas...

--Isso para mim não tem importância, em nada o ajuda, Agripino. O que importa é que você não ajudou seus semelhantes, mas muito os subjugou, sempre votou e agiu contra os pobres, os fracos, os desempregados. Quantos pais de família você deixou sem emprego, quantas crianças você condenou a um futuro de privações e pobreza, quanta gente tu ajudaste a matar de fome com tua postura no plenário! Não, gripino, você não conseguiu entender nada do que eu queria, nem qual seria a sua real missão na Terra, não há como evitar que você passe decênios em regiões umbralinas, não há como não deixar que padeça pelos erros que cometeu. E, se  quer um conselho de quem lhe quer bem, resigne-se ante o próprio sofrimento, ore bastante para mim, procure imbuir-se de bondade para ter uma chance de reencarnar como mendigo e assim poder expiar parte de seus pecados.

E na versão dos que acham que evoluímos ou involuímos quanto à forma de vida em que nascemos? Nela Deus já volta a ser formal na sua linguagem:

--Não, Dilma e Lula, vós não tendes o direito a me pedir clemência. Enganastes o povo com vossas bolsas inúteis, que são esmolas e não investimento em bem-estar social, com o fito único de permanecerdes  no poder.  Enganastes criaturas a que dei vida, fizestes que se sentissem remediadas quando  apenas as enganáveis, pois continuaram elas miseráveis e ignaras...Logo vós(!), que vos dissestes devotados à questão social!  Não, pecadores, não sois criaturas perdoáveis; e, como punição, farei que reencarneis ignaros e estúpidos: por isto nascerão como bactérias.

Agora, quando me perco nessas especulações, fico imaginando se o outro mundo também tem lá seus lobistas, seus jeitinhos e seus arranjos. Imagine se um santarrão daqueles(um santo no catolicismo, um anjo no protestantismo, um espírito no espiritismo) de bastante prestígio e excelente trânsito no divino gabinete resolve chegar para Deus e interceder:

--Ora, Senhor, apesar dos pesares o Agripino é um bom sujeito. È arrogante, sim, mas quem não é? Tem lá suas indiferenças e seu desprezo aos pobres, também não nego que suas injustiças, mas não seria injusto que ele reencarnasse imediatamente, só que desta vez como um político afeito às causas do povo.

Ou então:

--Não tiro vossa razão, sei que o Lula e a Dilma são embusteiros e abusaram da ignorância alheia, mas não vos pareceria exequível que voltassem pelo menos macacos?

Ou , ainda, por fim:

--Senhor, não vos agasteis com a falta de talento do Fernando para a ironia. Sei que ele foi mau, egoísta, insensível e nunca amou o próprio semelhante. Não tenho dúvidas de que uma alma tão mesquinha jamais poderia adentrar o Céu. Mas ele é extremamente culto, inteligente e vem de uma casta privilegiada: não vos seria então possível destinar-lhe o Purgatório? 

E a burocracia espiritual? Haverá burocracia no mundo dos mortos? Imagine , se houver, como será terrível. Aquela fila incomensurável, funcionários públicos espirituais mal-humorados, os espíritos por serem julgados aguardando com impaciência a chamada por seus números.

--3.687.654.863!... --não tendo o espírito chamado conseguido ouvir, o funcionário repetiria: --3.687.654.863! – uma espera de uns três segundos e a resolução do apregoador: -- Droga! Vou chamar outro: 3.687.654.864!...


Barão da Mata

CONFISSÕES DE UM JOVEM VAMPIRO

Esse negócio de ser vampiro não dá, não.  Entrei nessa numa de fazer a experiência... Mas também pudera! o cara apareceu de repente e, sem que eu pudesse nem pensar, enfiou os caninos no meu pescoço.   Eu vi que iria morrer mesmo; então pensei: melhor ser morto-vivo que morto-morto, né?  Aí eu falei pro mané: "Pô, cara! Deixa eu ser vampiro também!"   Pô! O cara até que foi legal: não sugou o sangue todo e aí eu virei parceiro dele. A gente fica por aí, toda noite, azucrinando a galera,  e nunca falta um pescocinho maneiro prá gente morder. 
Pô! Mas o problema de tudo é que a gente fica todo sujo de sangue.  Teve um dia que eu fui azarar uma mina, uma vampirinha gostosinha aqui do pedaço, e ela fez uma cara de nojo e me deu o toco.  Também... Aí!  Eu tava com a boca e o queixo todo sujo de sangue.  Pô! Não dá, né?   Minha mãe postiça aqui do submundo das trevas, uma coroa muito gente boa, vive perdendo a paciência comigo:
- Todo dia eu tenho que lavar tuas camisas sujas de sangue.  Acho melhor você usar só vermelho.  Não adianta usar preto, porque dá para notar a mancha vermelha.  E o pior é que você ainda é lambão: às vezes ainda deixa respingar na calça, e o pior é que tem mania de usar calça clara.  Vê se dá um jeito!
Aí, cara, vou te dizer um troço: esse negócio de ser vampiro dá o maior trabalho.
Sem contar as doenças que os companheiros tão pegando.   Tem vampiro aí pegando hepatite, Aids, sífilis, é o maior terror!   Tem também aqueles que ficam com o colesterol lá nas alturas, porque mordem algum cara que come muita gordura, e aí já viu, né?  Eu mesmo uma vez fiquei com os triglicerídeos lá em cima, já até fiquei doidão de pó e de cachaça sem beber álcool e sem cheirar.  Vida dura, não é?  Ou melhor, morte dura, né?  É muito ruim ficar morrendo assim a morte inteira.  Maneiro era se a gente pudesse ser igual a vampiro de filme americano, sempre limpinho, penteadinho, sem mancha de nada e sem doença transmissível pelo sangue.  
Não é que um dia um camarada meu entrou em parafuso?  Também pudera:  naquela noite ele foi guloso, mordeu três.  Tava na Lapa e ficou esperando a galera que passava sozinha na "night",  primeiro mordeu um cara que tinha tomado "ice" (aquela garrafinha de vodca com outro bagulhinho) com "red-bull", depois uma mina que tava cheia de "ecstasy", depois ainda um mané que tinha usado Lexotan ...Aí! Foi muita piração!
Eu também uma vez não quis beijar uma gatinha porque ela tava com a cara toda lambuzada de sangue.  Ela ficou meio bolada e tudo, né(?), mas não dava, não, maluco.  Aí eu entendo quando as minas não querem ficar comigo porque eu tô com a cara suja.  Aí, já pensei até em andar com um frasquinho de água oxigenada no bolso, porque é um bagulho muito bom pra remover mancha de sangue.  É isso aí, maluco, terror e avanço da ciência andando juntos! Maneiro, né?!
Outro troço ruim é que todo mundo pode ir à praia, pegar uma cor legal, e tu tem que ficar escondinho num porão, sótão ou quarto escuro.  Fica tu lá, feito um bundão, só chupando dedo, enquanto tá a maior alegria e pegação na orla.  Sacanagem, né?!
O pior de tudo é que todo mundo tem como optar por um meio de vida, enquanto nós, pobres vampiros, só temos este meio de morte.  Pô, macluco, é muito duro!
Francamente, parceiro, tem vez até que eu penso em me matar.  Tá! Sei que eu já tô morto, mas eu sou  morto-vivo; tô falando morto-morto mesmo!  Aquela de me matar legal mesmo!  Ir prá rua de manhã e receber direto em mim a luz do sol.  Pô, cara (!), mas me desencorajo pra cacete, porque a gente ali morre é queimado, queimadão mesmo!  Tô fora! Fico arrepiado só de imaginar.  Já pensei também em enfiar uma estaca  no peito ou mesmo mandar alguém enfiar... Pô, parceiro!  Mas na verdade eu tenho é muito medo de morrer-morrer.  Maior horror, né?!
Aí, galera! Vou ficando por aqui, que daqui a pouco dia amanhece e eu não quero literalmente me queimar.  O pior é que esta noite foi ruim pra caramba, porque choveu muito  e ninguém saiu prá rua. Nem cachorro encontrei.    Pô, maluco! Tive que invadir um sótão  e sair caçando ratazanas. Só peguei duas.  Não é quase sangue nenhum. E o pior é que é muito nojento!  
Eu não podia entrar no esgoto porque tava chovendo e ia cair na água corrente, e tu sabe legal que água corrente mata vampiro.  Mesmo quando não tá chovendo o esgoto é o maior perigo, porque, se pisar num filete de água corrente, já era.  Aí, tô saindo; valeu, galera, a atenção.

Barão da Mata