quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A RESSURREIÇÃO DE EDNARDO



Dia desses, conversava sobre música com uma roda que tinha, em média, seus trinta e poucos anos. Minha idade, por sinal.  O papo ia bem, quando lembrei-me de Ednardo, cantor e compositor cearense de músicas como "Lagoa de Aluá", "Enquanto engomo a calça" e "Pavão Misterioso", e perguntei se gostavam os meus interlocutores do seu estilo.
 
Quem é ele? Foi a única coisa que obtive em resposta.Assobiei melodia, declamei letra e numa última tentativa, juntei as duas coisas. Algo impensável em condições normais, visto que sou muito consciente de minha falta de talento vocal. De nada adiantou. "Triste coincidência", eu pensei. Dentre tantas pessoas que gostam de música, nenhuma sequer conhecia Ednardo.
 
Nos dias seguintes, passei a perguntar a outras pessoas, cuja idade regulava com a minha, sobre o tal do Ednardo. Depois de gastar um tempo considerável nesta pesquisa insana, tenho um veredicto. Salvo raras excessões, minha geração, ao menos aqui no Rio de Janeiro, ignora a existência de Ednardo. Não se trata aqui de simplesmente exaltar a sua carreira. É, antes, uma constatação da falta de preservação da memória cultural do país. Algo que muitos denunciam e alguns se recusam a admitir.

É preciso compreender de uma vez por todas que, ainda que possa estar  fortemente atrelada a determinado contexto histórico,  a arte não tem idade. No caso de Ednardo, várias de suas  composições não merecem desaparecer simplesmente. Ao contrário, deveriam ter a oportunidade de "estourar" novamente. A boa notícia é que elas não precisam desaparecer, diante da possibilidade que a Internet nos oferece para divulgarmos aquilo que julgamos relevante.
 
Quais teriam sido os pecados de Ednardo para alcançar este parcial ostracismo? Será que sua música é regional demais? Ou deveria ter gravado Peninha? Ou Roberto? Talvez adotar um sobrenome. Gil, Veloso, Guedes, ou Souza que fosse. Só Ednardo não cola. Mas e o Fagner, tem sobrenome por acaso? Não dá pra saber. Talvez os Pensadores de Birosca pudéssemos entrevistar Ednardo pra saber dele próprio, que por sinal, ainda aparece em alguns espetáculos ou fazendo participações especiais, principalmente no Nordeste.
 
O fato é que o cara  emplacou música em novela das oito. Em 1976, Pavão Misterioso tocou no último capítulo de Saramandaia, durante o emblemático vôo de João Gibão! Era presença comum nos clipes do Fantástico, ainda em meados dos anos 70. Peraí, mas se eu nasci em 78, como posso saber dessas coisas? E se eu sei, porque os outros não sabem?
 
Ia dizer que não faço idéia, mas lembrei que tenho um tio Barão. Provavelmente, é por meu tio Barão que conheço Ednardo. Por isso, também sei que Francis Hime não é nome de gringo. Pelo mesmo motivo, já admirava o baião muito antes de Breno Silveira lançar o filme "Gonzaga". Graças a meu tio Barão, sei que Marcos Valle compôs "Viola Enluarada", uma década antes de decidir que tem que malhar e suar.
 
Ressuscitemos, então, Ednardo. E qualquer outro artista cuja obra que marcou a história dos mais antigos, tenha potencial e qualidade para agradar a qualquer geração.  Abaixo, dois vídeos, garimpados do Youtube, para você de trinta e poucos não dizer mais que não sabe quem é. E viva Barão da Mata!

Leônidas Falcão


 

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