sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

POR FALAR EM CINEMA

 

 

GONZAGA, DE PAI PARA FILHO

Que obra prima!

 
 

 

Vi o filme "GONZAGA DE PAI PARA FILHO" e fiquei profundamente emocionado. A produção é riquíssima em cenários, em realismo, na descrição do tempo vivido pelo Gonzagão, no sotaque dos personagens, na abordagem à linguagem e à mentalidade dos homens daquela época. Foi perfeito.
Filho de nordestino, conhecedor do pensamento e idéias daquele povo, pude nota...
r a precisão com que o diretor focalizou aquelas inquestionáveis verdades. Além do mais, tenho boa noção da biografia do Gonzaguinha e sei quanto ódio aquele homem alimentou dentro de si enquanto compunha as mais lindas músicas e letras de amor. Grande paradoxo, não é? Mas é o real, o mais absoluto real.
Desassistido pelo pai, a não ser no aspecto financeiro, Luiz Gonzaga Jr. envolveu-se até com o crime, experimentando percalços como os maus tratos da madrasta e a tuberculose, caindo na vida até brilhar na MPB e sendo desta um dos maiores compositores da nossa gente. E isto mostra a prevalência do seu talento singular, ímpar, impressionante.
Gonzaguinha não olhava de frente, mas de baixo para cima e atravessado, a gente lia a revolta na maneira que este tinha de olhar, e aquele extremamente talentoso compositor canalizou toda a sua revolta contra a situação política do tempo em que viveu.
Os talentosos morrem logo, e Gonzaguinha, se não me engano, morreu aos quarenta e sete anos, no auge da criatividade. Os medíocres, os canalhas e os cruéis não morrem nunca, porque o Diabo não os aceita no Inferno, e Deus alega que o Céu não é o lugar deles. Mas Gonzaguinha morreu logo porque a humanidade, torpe, não merecia ( e não merece ainda hoje ) tê-lo em seu meio.
Mas, voltando ao filme propriamente dito, é de uma poesia inenarrável, de uma beleza envolvente e de uma poesia inefável. Os atores brilharam - meu Deus!, vi o irreverente Gonzaguinha no ator que o interpretou (parecia um espírito incorporando num médium). Houve cenas fortíssimas, e, no momento em que o filho desanca o pai, tudo me pareceu extremamente real. Vivam os grandes atores! Passo a vida exaltando os exímios cantores, mas os expressivos atores também são simplesmente mágicos.
Senti saudade de ver o Gonzaga velho tocando seu acordeon e espalhando as harmonias mais belas, do filho raivosamente irreverente (sobretudo porque no Brasil o sistema precisa e sempre precisará ser atacado pelos raivosos irreverentes) e uma certa tristeza por notar que a MPB, hoje em franca decadência, sem os dois, ficou um tanto quanto mutilada.
Prometi a mim mesmo que não mais seria saudosista, mas vendo aquele filme, sinceramente, não dá pra ser diferente (ou indiferente).
Vi muitas produções brasileiras sofríveis, mas o filme que vi me pareceu estar acima do bem e do mal e me orgulhou pelo fato de o Brasil ainda contar com cineastas responsáveis e que primam pela boa qualidade de suas obras.

Barão da Mata


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