domingo, 2 de dezembro de 2012

BREVES SUGESTÕES PARA QUEM VAI SE SUBMETER A EXAME DE PRÓSTATA PELA PRIMEIRA VEZ


Eu sei que esse negócio de fazer exame de próstata é incômodo.  Porém não mais do que incômodo.  Se você tem alguma outra objeção, eu peço perdão, porque não sabia que  sua masculinidade era tão frágil, que um simples exame feito por um profissional de saúde lhe traria à flor da pele tão inconfessos instintos.
Nascido em 1958, já fui examinado inúmeras vezes, mas falar de tais investigações médicas já me valeu ouvir as maiores asneiras do mundo.  Já vieram uma vez defender a "inviolabilidade" do reto masculino.  Brilhante raciocínio! Perdi um irmão  a partir de um câncer intestinal. Já fiz  e tenho de fazer colonoscopia de vez em quando. Na visão do defensor da imaculabilidade da região proctológica o portador de hemorroida tem de sofrer calado,   o de câncer, pior, deixar que a coisa vire metástase de uma vez por todas, mas preservar acima de tudo a "honra".  Uma vez um homem de setenta anos e o cérebro do tamanho de um grão de arroz  levantou as mãos pro céu, suplicando:
- Deus que me livre de um negócio desses! Já disse à minha mulher: "Se eu parar num hospital e ficar desacordado, por favor(!), me deixa morrer, mas não deixa fazer isso comigo.  Deus me livre... perder a virgindade na mão de um outro homem..."
Muito bem feito pra mim, pra aprender a ficar calado ao invés de falar com produtores de imbecilidades em larga escala.  Nunca tive nenhum gosto sexual que no passado fosse considerado exótico e hoje seja quase uma obrigatoriedade para quem não queira ser chamado de reprimido ou anacrônico.  Em outras palavras, não sou homossexual, ou melhor, homoafetivo - que é a mesma coisa mas a terminologia que querem que a gente use - nem nunca tive nenhuma experiência neste campo, nem tampouco tenho qualquer coisa contra a definição sexual de quem quer que seja.
Mas posso, com minha experiência, dar alguns conselhos àqueles que se submetam pela primeira vez a um exame clínico de próstata.
Primeiro, se você se sente acometido de alguma inibição ou insegurança, procure parecer simpático e amigo, e leve um presente para o médico: pode ser uma gravata, um perfume ou uma garrafa de vinho (de preferência acompanhado de um cartão).  Ele ficará agradecido, risonho, retribuirá a simpatia, e aí você vai ficar mais à vontade.
Depois, o urologista (se você não quiser ser examinado  pelo otorrino que mais lhe agrade) pedirá que tire as calças.  Neste momento, sei que o  amigo aí vai ficar inibido, atarantado, e eu sugiro que, para relaxar, pergunte ao especialista se não há um rádio para tocar antes (e durante) uma música suave.
Já de calças abaixo dos joelhos, suado e trêmulo, quando o profissional de saúde mandar-lhe ficar na humilhante posição, seja brando com ele e se explique:
- Doutor... sem querer atingir a sua autoestima... eu gostaria de dizer que... eu gostaria de dizer que...
- Diga, meu amigo!
- É que, doutor... é a minha primeira vez.
Aí eu lhe garanto: ele será compreensivo, calmo, cuidadoso, paciente, e as coisas fluirão naturalmente.
Eu, de minha parte, sempre fui extremamente tranquilo em relação a essas coisas e nunca tive medo ou inibição, nem muito menos senti em xeque a minha masculinidade.  Mas com você pode ser diferente. Por isto sugiro que, após sair do consultório, evite ficar pensando no médico ou se sentir envolvido pelo fato de este haver sido tão ameno, porque terá agido unicamente com profissionalismo, sem outro intento que o de fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.  Ou seja, não adianta depois ficar se queixando:
- Insensível... além de não ter demonstrado a menor emoção, nem sequer me convidou pra jantar...
Ah! E mais!  Não adianta ficar ligando pra ele:
- Eu não tô bem hoje, tô sentindo um vazio, parece que falta alguma coisa, e precisava me abrir com alguém, uma pessoa em quem pudesse confiar... Aí então me lembrei de você.  Você me pode ouvir um tempinho? Sinto que tô precisando de colo...
Muito provavelmente ele será ríspido:
- Meu amigo, eu preciso trabalhar. Por favor, resolva seus problemas existenciais com o seu terapeuta.
Agora, se você  estiver seguro de que é plenamente masculino, submeter-se-á ao exame e, finda a consulta, apertará a mão do médico, irá embora e só voltará a procurá-lo um ano depois.


Barão da Mata

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